sem inspiração, sem motivação e sem propósito. onde se encontra o meu "eu" mais genuíno, o meu "eu" mais verdadeiro? mudou? não. desapareceu? não.. está preso, isso sim. preso no espaço onde o corpo se encontra, preso no corpo e preso dentro de si próprio. como se de uma caixinha de segredos se tratasse, o meu "eu" escondeu-se e preferiu guardar-se para tempos épicos.
por vezes questiono-me: se me encontro nesta desolação de quando em vez, se sinto que não tenho quaisquer pilares, se os meus objectivos se perdem na infinidade das minhas complexas teorias filosóficas (pretendendo descortinar algum do sentido desta vida de adolescente que levo...), o que faria se REALMENTE não tivesse saída de uma situação horrenda? se toda a minha existência dependesse de outrem? se tivesse que mendigar para receber uma mínima moeda na palma da minha mão? se todo o meu esforço se concentrasse com uma finalidade e ao fim de cada longo dia, cada vez mais infinito, me encontrasse exactamente no mesmo sítio? se todos os meus propósitos se desvanecessem, não por vontade própria, mas por vontade do que a sociedade sente que eu deva receber?
todos estes pensamentos me atropelaram num dia em que me senti frágil e que me levou a pensar realmente sobre a minha vida e a dos que se encontram à minha volta. coloquei uma moedinha de cinquenta cêntimos na mão de uma desconhecida, de idade já avançada, que se encontrava sentada no chão, cabisbaixa (certamente a pensar na sua vida, muito pior que a minha, que casualmente julgo tremenda, sem qualquer motivo relevante). o seu sorriso invadiu-me, encheu-me de alegria e as suas lágrimas foram partilhadas comigo. "muito obrigada menina, que Deus lhe dê muita saúde e muita sorte na sua vida". impressionante: a forma como cada um pode mudar a vida do outro. certamente, esta senhora tornou o meu dia épico (por que esperava há muito tempo) mudou muitas das minhas percepções quanto à justiça e à igualdade, mas CERTAMENTE e PRINCIPALMENTE, mudei o seu dia por um simples gesto afável e de lágrima no canto do olho.
que sociedade é esta que atropela os mais frágeis? onde se encontra o conceito de tolerância? porque nos fechamos sobre nós próprios, como se mais nada existisse no nosso mundo egocêntrico, e contribuímos para esta desigualdade cada vez mais abrangente?